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Em agosto de 2010, o consagrado piloto brasileiro de Fórmula 1, Rubens Barrichello (“Rubinho”, para os íntimos) realizava um de seus atos mais memoráveis nas pistas: a apertada e perigosa ultrapassagem sobre o alemão Michael Schumacher.
Roubando os holofotes do pódio
Foi na volta de número 66 do Grande Prêmio da Hungria 2010 (Hungria Grand Prix 2010), 12ª prova da temporada.
A apertada briga pelo título separava, por apenas 30 pontos (pouco mais de uma vitória), os corredores Jenson Button, Lewis Hamilton, Sebastian Vettel, Mark Webber e Fernando Alonso.
Mas, apesar da acirrada disputa pelo topo da tabela, foi Barrichello quem protagonizou o lance mais marcante daquele final de semana.
O retorno de Massa ao circuito do acidente que quase pôs fim à sua carreira
Vale lembrar que, nessa corrida, o brasileiro Felipe Massa ainda sofria sequelas do grave acidente ocorrido no ano anterior na mesma pista húngara, durante o treino classificatório para o Grande Prêmio da Hungria 2009.
Na ocasião do acidente (em 2009), uma mola – com o peso aproximado de 1 kg – se desprendeu da Brawn* de Rubens Barrichello e atingiu em cheio o olho esquerdo e a cabeça de Massa.
*Brawn GP Formula One Team ou apenas Brawn GP foi a equipe de crescimento mais meteórico na história da Fórmula 1, sendo que em sua primeira e única temporada, alcançou o título de pilotos e o Mundial de Construtores. Teve como seus pilotos Jenson Button e Rubens Barrichello. Todo o seu sucesso foi creditado a Ross Brawn (antigo chefe de equipe da Honda F1), que assim se tornou um grande nome na categoria, levando uma equipe falida como a Honda F1 à equipe com o melhor aproveitamento em corridas da história da categoria, superior a 75% dos pontos disputados. (Fonte: Brawn GP Wikipédia)
No momento do acidente, os locutores – inclusive Galvão Bueno, ficaram sem entender o que havia acontecido. Relembre a cena no vídeo abaixo:
Na época, a Ferrari emitiu um comunicado informando que Felipe Massa sofreu “concussão cerebral, um corte profundo na testa e danos em um osso do crânio”.
O até então ferrarista da F60 teve de ficar em coma induzido e, para piorar, ainda existiam dúvidas se Massa seria capaz de retornar às pistas, além de ter ficado de fora do restante da temporada de 2009.
Felizmente, Massa conseguiu se recuperar e retornou às pistas em alguns meses após o acidente.
Em outubro de 2009, já confirmado para a temporada de 2010 da Fórmula 1, Massa retornou à Ferrari e começou a treinar em um simulador. No ano seguinte, Felipe Massa conquistou a segunda colocação no Grande Prêmio do Bahrain.
Apesar de nunca mais ter conquistado um campeonato após o acidente, Massa foi vice-campeão Mundial de F1 pela Ferrari em 2008, a apenas um ponto de Lewis Hamilton.
Duelo “Brasil e Alemanha” muito antes do 7×1
Se por um lado Rubinho se impunha com tranquilidade sobre o alemão Nico Hülkenberg, em contrapartida, sua paciência seria colocada à prova por outro audacioso alemão.
Barrichello seguia na briga pela 9ª posição com um velho conhecido: ninguém mais, ninguém menos do que Michael Schumacher.
Com 29 pontos conquistados em 11 provas, o bom desempenho de Barrichello pela Williams naquele ano fazia jus à contratação pela equipe inglesa.
Enquanto que, com apenas 36 pontos contra os 92 conquistados por seu companheiro da Mercedes, Nico Rosberg, Schumacher sofria para se readaptar à F1 após três anos de aposentadoria.
O duelo entre o brasileiro e o alemão era ainda mais envolvente por conta de Schumacher ter, de certa forma, “roubado” o lugar de Barrichello na Mercedes.
Após a aquisição da Mercedes-Benz de 75,1% da Brawn, os lugares de Barrichello e Button na escuderia foram substituídos justamente por Schumacher e Rosberg – fato que marca mais um capítulo da conturbada história vivida entre os corredores durante os anos 2000 a 2005.
Partindo para o tudo ou nada
Momento da fechada que o piloto alemão Michael Schumacher deu em Rubens-Barrichello no GP da Hungria em 2010 | Fonte: Globo Esporte
Brigando pela 10ª posição e um pontinho, Barrichello corria contra o tempo para dar o bote e ultrapassar Schumacher, mas o alemão jogava duro para impedir a façanha de Rubinho.
Já com os pneus gastos, a ultrapassagem era ainda mais improvável. Mas, foi duas voltas mais tarde – no giro 66 – que Rubens Barrichello viria a desempenhar uma de suas mais belas e arriscadas manobras na Fórmula 1.
>> Falando pneus gastos, confira nossa matéria exclusiva: Como aumentar a durabilidade dos pneus?
Aproveitando o vácuo na entrada da reta, Barrichello pisou fundo para realizar a ultrapassagem. Schumacher jogou o carro para cima de Barrichello e deu uma fechada perigosíssima, espremendo o brasileiro contra a mureta dos boxes.
Mesmo assim, Barrichello não exitou em sua decisão e passou acelerando pelo espaço exato entre o muro dos boxes e o “muro” conhecido como Michael Schumacher.
Uma questão de poucos centímetros e uma fração de segundos separava os corredores de uma colisão fatal. Com muita habilidade e sagacidade, Barrichello aproveitou a linha de saída dos pits e conquistou a posição.
Como bem disse a repórter no vídeo acima, “Rubinho foi para o tudo ou nada, sem que nada o pudesse deter”.
Após o aperto, Barrichello solta a voz
No momento após a perigosa ultrapassagem que poderia ter causado um acidente fatal, é possível ouvir Barrichello pelo rádio dizendo “Foi horrível!” – e foi mesmo.
Na época, Rubens Barrichello declarou em entrevista:
A gente não brinca mais de kart. Não dá pra fazer uma fechada assim. Mas, pros brasileiros, eu prometi: ‘Não vai me passar de novo!”
E, sobre a ultrapassagem, disse:
Normalmente, com um cara louco desse, eu diminuiria. Mas não hoje. Absolutamente não. Eu acho que foi uma das manobras mais bonitas que já fiz e uma das mais horrorosas dele. No fim do dia, nós não precisávamos disso. Parar por três anos para voltar e fazer algo assim… Não precisamos disso. Acho que não foi justo uma maneira legal de reviver um duelo. Falei sempre do passado, fiz o que fiz, me arrependo, mas hoje não faço mais. Schumacher não me passa mais”
Ao final da corrida, o alemão foi punido por ter jogado o carro para cima de Barrichello e perdeu posições no grid para a corrida seguinte, na Bélgica.
Schumacher havia ironizado a ultrapassagem, dizendo que havia muito espaço, tanto que Rubinho passou. Mas ao rever o vídeo da ultrapassagem, Schumacher se desculpou:
Não queria deixá-lo passar, mas não estava querendo deixá-lo em perigo. Se essa foi a sensação dele, peço desculpas”
Em primeira pessoa: o momento da ultrapassagem pelos olhos de Rubinho
Vídeo revela o momento da ultrapassagem pelos olhos de Rubinho. Assista abaixo:
Resultado do Grande Prêmio da Hungria 2010
O grande vencedor do circuito húngaro foi Mark Webber, pela Red Bull-Renault, seguido pelo espanhol Fernando Alonso (Ferrari) em segundo, e o alemão Sebastian Vettel (Red Bull-Renault) em terceiro.
Apesar do resultado, a ultrapassagem de Rubens Barrichello sobre o alemão foi a verdadeira protagonista daquele final de semana (Barrichello finalizou a corrida como o 10º colocado e Schumacher como 11º).
Curiosidades sobre o GP da Hungria
O brasileiro Nelson Piquet foi o primeiro vencedor do Grande Prêmio da Hungria, em 1986.
Os maiores vencedores do GP da Hungria são o alemão Michael Schumacher e o inglês Lewis Hamilton com 4 vitórias cada, seguidos pelo brasileiro Ayrton Senna, com 3 vitórias.
Por equipes, quem mais venceu até agora foi a McLaren com 11 vitórias, seguida pela Willians com 7 vitórias.
O recorde da pole mais rápida pertence a Sebastian Vettel, pela Red Bull, desde 2010, com o tempo de 1 minuto 18 segundos e 773 milésimos (com os carros com motores V8) e a volta mais rápida foi feita por Michael Schumacher, em 2004, pela Ferrari, com o tempo de 1 minuto 19 segundos e 071 milésimos (com os carros com motores V10).
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